quarta-feira, 27 de junho de 2012

Marcha das Vadias Alagoas – Um importante grito contra o machismo


O ato em si

A Marcha das Vadias em Alagoas, ocorrida dia 17 de junho, reuniu cerca de 500 pessoas que, com palavras de ordem como “Vem, vem pra luta vem, contra o machismo”, agitou a orla da Ponta Verde e Jatiúca denunciando a opressão, a violência contra a mulher, as piadas machistas e cruéis que mulheres (e também homens) tem de agüentar cotidianamente, a visão que as colocam como objetos e como seres que não nasceram para se autodeterminar, mas que devem ser e viver da forma como a sociedade julga aceitável. Foi um enorme avanço no estado, por este ser o segundo estado onde mais há violência contra a mulher, estado pioneiro no número de mortes a homossexuais, e com número extremamente alto de casos de pedofilia.
As bandeiras levantadas, além do fim da violência contra a mulher, incluíram a legalização do aborto, por este tratar-se de um problema de saúde pública; a construção de mais delegacias da mulher; mais casas abrigos; ampliação e efetivação da lei Maria da Penha; construção de creches públicas gratuitas e de qualidade; foco na saúde integral da mulher e não apenas na maternidade; equiparação salarial entre homens e mulheres; em defesa das mulheres negras, lésbicas e pobres, que são as que mais sofrem pelo machismo e contra uma mídia que incita a violência contra a mulher, seja propagando estereótipos de mulher objeto, seja colocando o abuso sexual ocorridos nos transportes públicos lotados como algo engraçado. 
A recepção por parte da população foi bastante positiva. Desde businadas dos carros que concordavam com nossas bandeiras a elogios pela coragem dos manifestantes. Os homens participantes também pintaram seus corpos com frases como “se eu posso, elas também podem”, e levantavam cartazes com a frase “para ser pró-mulher, não precisa ser anti-homem”. Foi uma lição de humanidade, amostra de que muitas pessoas não suportam mais a opressão diária, e de que a busca pela liberdade está na ordem do dia.

 O caráter da Marcha das Vadias

A construção da Marcha em Maceió surgiu espontaneamente pelas redes socias, e agregou coletivos culturais, coletivos do movimento estudantil, partidos políticos, movimentos sociais, e contou com o apoio político e financeiro do sindicato classista filiado a CSP-Conlutas, o Sindjus, e da Casal, que doou à marcha 200 copos d’água, além de outros.
                A Marcha trata-se de um ato de rua de unidade de ação, assim como a Marcha da Maconha, o Movimento Passe Livre, o Fora Téo e a recente Marcha pela Educação, em Brasília. Em todos estes, assim como na Marcha das Vadias ocorrida em outros estados, sejam os indivíduos sejam as organizações que construíram o ato e que também lutavam pela causa, foram passar a sua mensagem, colocar as suas propostas e dialogar com a população com todo o material de que dispunham, sejam camisas, bandeiras ou panfletos. Ela é, assim, um movimento bastante plural e diversificado. As organizações que participaram só tinham um acordo, ser contra a opressão machista. No mais, muitas diferenças, inclusive de como se combater o machismo.

A participação de partidos

Partidos são organizações de pessoas que compartilham idéias semelhantes acerca da sociedade e se juntam em uma coletividade para dar força e ação a essas idéias. A bandeira de um partido apresenta estes princípios defendidos pelos militantes e também representa os próprios militantes. A bandeira do PSTU apresenta a idéia do socialismo, a idéia de que não se pode mudar o mundo sem a tomada do poder pela classe explorada, a idéia de que o machismo faz parte do capitalismo e que a luta contra ele é também uma luta contra o capitalismo e a exploração. Desta forma, fazer parte da coletividade de um partido não elimina as individualidades, pelo contrário, as potencializa.
É importante destacar que não só os partidos querem mostrar suas idéias, mas todos aqueles que levantam seus cartazes também. Se não fosse assim, não existiria motivo para a marcha existir, nem mesmo atos de greve de trabalhadores que vão às ruas protestar. Gostaríamos que houvesse na Marcha panfletos da Resistência Popular, do PCR, do PT, do Além do Mito... e de todas as organizações que quisessem fazer isso para alimentar a discussão com a população através das idéias diferentes a respeito da origem e da solução dos problemas denunciados.
Gostaríamos, assim, de demonstrar o nosso completo desacordo com a atuação da Resistência Popular no dia marcha. Esta organização política, em todos os espaços, sempre levantou suas bandeiras, mas estranhamente neste ato, se retirou ao ver que havia bandeiras do PSTU. Acreditamos que é obrigação dos movimentos sociais, dos partidos e de todas as organizações políticas sérias (acreditamos ser o caso desta organização) se colocarem nos espaços de luta. Ao ter esta postura a Resistência se absteve dessa responsabilidade. Postura que se torna ainda mais estranha pelo fato dos companheiros e companheiras deste movimento não participarem desde o inicio da organização para defender a proibição das bandeiras, e coincidentemente apresentam essa opinião justamente quando o sentimento antidemocrático de proibição estava mais fortalecido. Quando a postura deveria ser exatamente oposta, combater esse sentimento que inevitavelmente leva o movimento feminista a derrota.
Temos que garantir a livre expressão de todas as correntes de pensamento e que se faça o debate sobre elas com a mais ampla democracia. É compreensível o surgimento do sentimento apartidário, que consideramos equivocado, depois de tantas desilusões políticas, muitas delas encabeçadas pelo PT. Mas é um equívoco achar que todos os partidos são iguais. Se todos os partidos são iguais, por que somente alguns estavam presentes? Se todos os partidos são iguais, por que somente alguns gastaram seus esforços imprimindo panfletos de apoio ao movimento e colocando todas as suas forças para construir a mobilização? Se todos os partidos são iguais, por que alguns estavam na Marcha das Vadias em unidade contra o machismo e outros não?
Compreendemos que muitos estavam contra as bandeiras, pois tinham medo que o ato perdesse a independência. Porém é outro equivoco achar que a existência de partidos com suas bandeiras, faixas, camisas, megafones e panfletos coloquem em risco a sua independência. Porque quando falamos de independência política em uma luta, falamos do seu programa. Em nenhum momento as bandeiras do PSTU significaram uma ruptura com o programa da marcha, muito pelo contrário, exatamente por isso participamos do ato com todos os nossos materiais, inclusive nosso panfleto de apoio.
A atitude do PT em relação a isso foi se aproveitar do sentimento apartidário presente em boa parte dos presentes na marcha e tentar construir um sentimento contra o PSTU, pelo seu destaque desde o inicio da organização do evento. A justificativa era de que a marcha era composta por indivíduos que se colocavam contra a opressão, e não deveria ter a participação de partidos, idéia completamente incoerente. E quanto às mulheres que faziam parte de partidos e construíram a marcha? Que, inclusive, fazem a luta cotidiana contra a opressão por meio dessas organizações? Com esta ideologia, o PT fez um desserviço à consciência da Marcha e da população, pois limitou um problema político e coletivo a ações individuais e fragmentadas. Além disso, querer que a marcha proíba os partidos de se manifestarem de todas as formas, inclusive levantando suas bandeiras, é na prática proibir a participação de partidos, e é também tolher a liberdade individual dos que a construíram a acreditam que o problema da opressão é sim um problema que diz respeito aos partidos.
Porém não somos ingênuos, esta postura do PT nada tem a ver com a justificativa apresentada pelos poucos participantes deste partido na marcha. Esta postura tem sim a ver com a grande contradição que é hoje levantar a bandeira do PT em um ato feminista, principalmente onde o PT é minoria e não pode impor o programa do governo Dilma neste ato. Porque como levantar a bandeira do PT em uma marcha que uma das bandeiras era a descriminalização do aborto se o governo da Dilma/PT não defendeu esta proposta para manter os votos dos evangélicos? Como levantar a bandeira do PT se uma das bandeiras era libertação da mulher, se Dilma/PT aprova o Plano Cegonha que só faz fortalecer o machismo perpetuando a idéia que mulher só serve pra reproduzir e cuidar dos filhos? É natural que os poucos membros desse partido presentes na marcha tivessem vergonha de levantar suas bandeiras sujas pela corrupção do mensalão. Ao se sentirem com vergonha de levantar suas bandeiras este partido defendeu a idéia de que ninguém poderia levantar bandeiras. Nada mais oportunista do que esconder suas bandeiras e idéias para tentar impor suas práticas.

Não marchamos com Kátia Born

            O problema da opressão atinge as relações sociais cotidianas e devem ser combatidas neste âmbito, diariamente e incansavelmente. A opressão, porém, tem uma razão de ser no capitalismo: explorar mais as populações fragilizadas culturalmente. O machismo é uma forma de naturalizar o papel da força de trabalho feminina como inferior à força de trabalho masculina e naturalizar a suposta “função” que todas as mulheres nasceram dispostas a cumprir: os serviços domésticos e a criação dos filhos. Além disso, a opressão é uma forma de dividir a classe explorada, velando que, ao invés da luta contra os patrões, a luta principal é contra os homens. Desta forma, os companheiros de luta das mulheres oprimidas e exploradas não são as mulheres burguesas que exploram, são os homens trabalhadores.
            Por isso que nos colocamos contra o financiamento da Marcha das Vadias- AL por parte da Secretaria Estadual da Mulher, da Cidadania e dos Direitos Humanos. Kátia Born, secretária da mulher, da cidadania e dos direitos humanos no governo Téo Vilela, representa as medidas ilusórias do governo que não agem a favor da busca por igualdade social, mas apenas administra uma situação em que os ricos ficam cada vez mais ricos e os pobres recebem apenas migalhas.           
A I Marcha das Vadias – AL foi bastante vitoriosa. Representou um capítulo importante na luta contra a opressão em Maceió. É preciso agora continuar a lutar por todas as bandeiras elencadas no ato, esta é uma responsabilidade de todos. Por isso construímos o MML (Movimento Mulheres em Luta), alternativa de luta contra a opressão que também engloba a luta contra a exploração. Convidamos a todas e todos que concordam conosco a compor este Movimento.

PSTU-AL


Errata: Dizíamos na primeira versão do texto que tinha sido do PT a proposta de financiamento da marcha pela Secretária Estadual da Mulher, da Cidadania e dos Direitos Humanos do governo Téo/PSDB, mas cometemos um erro.A proposta foi dada por um setor independente da marcha. Esta proposta não se concretizou porque a própria Secretária não quis financiar, naturalmente, por não concordar com o programa da marcha.

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