sábado, 30 de junho de 2012

Luta contra a Burocratização e o Machismo nos Sindicatos


            O movimento sindical é chamado para se posicionar diante do momento em que estamos vivendo, marcado por uma forte crise do capitalismo, em que as massas trabalhadoras vão às ruas em luta, realizando grandes mobilizações. Isso pode ser visto na chamada "Primavera Árabe", onde os povos de países do norte da África e do Oriente Médio lutam por democracia e contra ditadores que empurram a classe trabalhadora para a miséria. Na Europa, a classe trabalhadora tem lutado contra os efeitos da crise do capitalismo, contra os planos dos governos que rebaixam salários, retiram direitos básicos como a aposentadoria e destrói os serviços públicos. Nos Estados Unidos, os trabalhadores lutam contra os efeitos da crise com o movimento “Occupy Wall Street”. Na América Latina, podemos destacar a luta dos trabalhadores na Argentina contra os planos do governo que piora as condições de vida da maioria da população. No Brasil, as greves na construção civil, nos transportes e nos serviços públicos, com destaque para as greves na educação, mostram que a classe trabalhadora não aceita pagar pela crise do capitalismo.

            Diante dessa crise, se observam dois aspectos negativos no movimento da classe trabalhadora, principalmente no movimento sindical. É importante destacar a importância desse movimento para a construção da direção da luta contra o capitalismo.

O primeiro aspecto pode ser visto claramente, e não é novo. É o fato de que algumas direções sindicais resolveram cooperar com os governos capitalistas, abandonando assim a luta contra esse sistema e enfraquecendo a luta por uma sociedade socialista, já que no capitalismo as necessidades dos trabalhadores não são atendidas. É o que chamamos de burocratização dos sindicatos.

Cena do Filme "Terra Fria"
O segundo aspecto que representa preocupação para a luta da classe trabalhadora é a situação das mulheres, que nos sindicatos tem que enfrentar um enorme machismo. Essa ideologia é conseqüência da opressão sofrida na sociedade capitalista, onde a classe patronal se utiliza dos preconceitos contra a mulher para aumentar a exploração. Nos momentos de crise do capitalismo a opressão à mulher aumenta e, junto com ela, o aumento da violência de gênero, com o aumento de assassinatos.

            A burocratização dos sindicatos é a forma como ficou conhecida a ação dos dirigentes sindicais e dirigentes de diversas organizações de trabalhadores de aplicar uma política que faz com que esses espaços deixem de cumprir o papel de defender os trabalhadores e se tornem organizações de cooperação com os patrões. Essa política começa a ser desenvolvida a partir do momento em que os sindicatos vão crescendo, adquirindo recursos materiais que dão aos dirigentes vantagens pessoais que os fazem se afastar dos trabalhadores. "Para dar visibilidade a sua organização, para que os sindicatos permanecessem atuantes mesmo quando não há luta, os trabalhadores construíram aparatos: sedes, funcionários, um sistema de arrecadação de fundos, carros, liberações, etc. (...) Mas esse aparato, ao mesmo tempo em que é decisivo para a permanência da organização, gera pressões burocráticas que ameaçam os sindicatos enquanto organizações de luta." (Henrique Canary). O problema da burocratização dos sindicatos tem sido combatido desde o surgimento destes.

            Em 1920, no II Congresso da Internacional Comunista, Lênin fez a seguinte declaração: "acorrentados por um aparelho burocrático, completamente estranho às massas enganadas por seus líderes oportunistas, os sindicatos não só traíram a causa da revolução social, mas também a luta pela melhoria das condições de vida dos operários que havia organizado”.

Trotsky havia alertado em 1940: "Há uma característica comum no desenvolvimento, ou, para sermos mais exatos, na degeneração das modernas organizações sindicais de todo o mundo: sua aproximação e a sua vinculação cada vez maior com o poder do Estado. Este processo é igualmente característico nos sindicatos neutros, social-democrata, comunistas e anarquistas. Somente este fato demonstra que a tendência a estreitar vínculos não é própria dessa ou daquela doutrina, mas provém de condições sociais comuns a todos os sindicatos."

            Hoje, temos visto grandes sindicatos fazendo acordos para favorecer os patrões e os governos capitalistas. Nos Estados Unidos, a Associação Internacional dos Maquinistas e Trabalhadores do Aeroespaço fez um acordo com a Boeing, onde a direção do sindicato se compromete a evitar greves até o ano 2016 (www.exame.abril.com.br). Em novembro de 2011, a central sindical UAW-United Auto Workers (União dos Trabalhadores em Automóveis), também nos Estados Unidos, fez um acordo com as empresas para rebaixar os salários dos trabalhadores (www.wsw.org). Na Europa, a organização sindical TUC-Trade Union Congress (Congresso das Organizações de Trabalhadores) da Inglaterra, se colocou contra a greve de 2 milhões de  trabalhadores da educação, em novembro de 2011(www.litci.org). No Brasil, a CUT, a Força Sindical e a CTB estão à frente de um setor da burocracia sindical que apóia o governo patronal da presidenta Dilma do PT.

      Quanto à outra característica da burocracia, que consiste no machismo, é importante lembrar a história da luta da classe trabalhadora. No século 19 as mulheres lutavam pelo direito ao voto (Movimento Sufragista). Os reformistas, entre eles os burocratas sindicais, se colocaram ai contra o direito do voto para mulheres. Segundo Cecília Toledo, em seu livro Mulheres: o gênero nos une a classe nos divide, ela diz: "No campo socialista, a luta sufragista foi dirigida pela II Internacional (1889-1914), dividida entre reformistas, que defendiam o direito de voto apenas para os homens (eles achavam que as mulheres votariam nos partidos católicos reacionários), e marxistas, defensores do voto para todos". A visão da mulher como mais ingênua do que o homem, sem a mesma importância política e inferior, sendo sempre vítima de, no mínimo, piadas machistas e constrangedoras, é ainda muito comum. O resultado disso é a pequena participação de mulheres nas organizações de trabalhadores(as). Observando grandes sindicatos em Alagoas, entre os mais importantes filiados à CUT, constatamos uma baixa participação de mulheres na direção:

  • Sindicato dos Urbanitários – 03 mulheres na executiva de 13 - 23,07%
  • Sindicato dos Bancários - 01 mulher na executiva de 11 - 9,09%
  • Sindicato dos Rodoviários de Alagoas – 01 mulher na executiva de 12 - 8,3%
            Esses sindicatos não atingiram a cota de 30% de mulheres na direção, que é política do movimento de mulheres desde a década de 1980. A burocracia sindical, que cria grandes organizações, com muitos recursos, capaz de contribuir para que seus partidos aliados elejam parlamentares, prefeitos, governadores e até presidente da república, não garante condições para uma participação adequada de mulheres nas direções sindicais, mostrando o machismo que predomina nessas organizações. O apoio da CUT e de todo setor da burocracia sindical ao governo da presidenta Dilma não significou melhora na vida das mulheres trabalhadoras, podemos constatar pelos cortes de 55 bilhões de reais no orçamento da união para 2012, sendo 5,5 bilhões na saúde. A situação da saúde da mulher também se reflete no fato de o governo Dilma se colocar contra a legalização do aborto, tendo como conseqüência as 200 mil mortes de mulheres por conta dos 1,2 milhão de abortos realizados por ano, segundo o próprio governo.

Para os sindicatos que se mantém no campo da luta da classe trabalhadora, como a CSP-Conlutas, a luta contra a burocratização e o machismo é preocupação principal.

Uma medida importante para combater a burocratização nos sindicatos é construir organizações em que os trabalhadores possam ter controle sobre as direções, onde as decisões possam ser tomadas com a participação da maioria dos trabalhadores. Já a luta contra a opressão e o machismo nos sindicatos tem que ser compreendida como a própria luta contra a exploração e, portanto, não pode ser deixada de lado. "O enfrentamento contra as desigualdades e injustiças vem sendo, para a mulher trabalhadora, uma das facetas mais sórdidas do capitalismo. O enfrentamento contra o desemprego, os baixos salários, as más condições de vida vem ocorrendo com a mulher nessas condições de opressão. É nesse enfrentamento que ela está aumentado seu nível de consciência, como mulher trabalhadora." (Cecília Toledo - Op.Cit.). Essa luta deve ter mais visibilidade por parte dos movimentos da classe trabalhadora. É importante destacar o Movimento Mulheres em Luta, que se pretende organizar as mulheres trabalhadoras nos sindicatos, como uma forma de combater a opressão das mulheres. "Os sindicatos e os movimentos populares devem também tomar as reivindicações das mulheres e ser espaços de organização da luta conjunta, podem assim, no marco da luta contra a exploração, fortalecer a luta contra a opressão." (Ana Paguminici).

        O processo de reorganização sindical que a CSP-Conlutas constrói coloca a responsabilidade de fazermos avançar a consciência da classe trabalhadora no sentido da construção da direção da luta contra o capitalismo e na construção do socialismo.

Manoel de Assis
PSTU-Alagoas
Junho/2012

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