domingo, 1 de julho de 2012

CARTA DESTINADA AOS MEMBROS DO CENTRO ACADÊMICO GUEDES DE MIRANDA- GESTÃO DIREITO EM MOVIMENTO



Venho, por meio desta breve carta, expor os motivos que me fazem tomar a decisão de, a partir deste momento, discutir teoricamente e atuar politicamente por dentro do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados (PSTU). Estas explanações tem por objetivo principal clarificar algumas dúvidas e sanar possíveis questionamentos  que possam surgir por parte daqueles que militam comigo no Centro Acadêmico Guedes de Miranda.
O processo de formação de um militante é complexo, carregado de erros e acertos. Ao entrar na universidade me deparei com o Movimento Estudantil por meio  da disputa eleitoral do CAGM.  Neste momento tive contato com o Movimento Correnteza, grupo político capitaneado pelo Partido Comunista Revolucionário (PCR). É neste instante que minha militância se inicia.
A falta de uma formação política constante, o praticismo nos moldes stalinistas, a atuação burocratizada sempre dependente dos aparatos institucionais estudantis e o forte caráter oportunista presentes na Correnteza, fizeram-me repensar minha concepção de militância. Foi necessário aproximadamente um ano de atuação por dentro deste grupo para que eu pudesse ter possibilidades objetivas de realizar uma leitura precisa do quanto ultrapassada e negativa as concepções e práticas da Correnteza representavam  para  o Movimento estudantil. A minha ruptura foi inevitável.
Após um curto período de tempo sem me mobilizar, a necessidade de montar trincheiras em uma organização que se colocasse ao lado dos trabalhadores na luta de classes já era iminente. É neste momento que decido entrar no Grupo Além do Mito, grupo político formado em sua grande maioria por estudantes da UFAL, que se organizam com o objetivo de formar uma unidade na ação por uma educação de qualidade e sobre uma perspectiva classista. O  AdM foi instrumento crucial na minha formação enquanto militante. Foi por meio deste grupo que rompi com os vícios praticistas alimentados pela Correnteza.
Militei no AdM por aproximadamente um ano e meio. O grupo proporcionou a minha guinada definitiva para a esquerda e a certeza que a luta por uma sociedade emancipada sob a égide do Comunismo é possível. Apesar de diversos elogios e adjetivos que posso atribuir a este grupo, não posso deixar de explicar os motivos que me fazem entrar no PSTU, sem antes expor as críticas que me fizeram sair do Além do Mito.
O AdM possui limitações que são inerentes a sua própria formação. O grupo não centraliza seus militantes, nem possui uma forma de organização delineada. Portanto, a militância dos seus membros é um tanto quanto “solta”, permitindo que cada um haja e se posicione da maneira que bem quiser (inclusive de forma oposta), em detrimento do que a maioria coletivamente decidiu.
Como o grupo existe pra formar uma unidade política na ação, esta forma de organização só consegue dar respostas positivas quando as deliberações são realizadas de forma extremante consensuadas. Entretanto, sabemos que as divergências existem e, inclusive, são fundamentais para o desenvolvimento de uma organização. É necessário  uma estrutura  que permita que as divergências sejam disputadas internamente, mas ao mesmo tempo  sem perder a unidade política. Afinal, nas lutas travadas cotidianamente a unidade dos indivíduos em torno de uma mesma política é fator determinante para o fortalecimento da mesma.
Diante disso, ao se formar tendências dentro do grupo, deparei-me com um Além do Mito fragmentado e com várias facetas políticas. Praticamente vários AdM’s dentro de um só. Portanto, a forma de organização tão gloriosamente defendida pelos seus membros se mostrou falha para a atuação política. O resultado disso não foi outro, as divergências em vez de se tornarem elementos impulsionadores de políticas mais acertadas, viraram entraves para as formulações e gradativamente o AdM foi perdendo sua capacidade propositiva para o campo em que  atua, a educação.
Outro fator decisivo para minha saída do Além do Mito, foi a necessidade de uma articulação a nível nacional que possibilitasse a potencialização da minha militância e que pudesse abordar temáticas que o grupo há tempos não dava respostas ( como a luta contra o aumento da passagem, a elaboração ou participação em  uma nova entidade  nacional estudantil,  um novo projeto de educação, debate de opressões,etc.). Além do mais, a falta de uma maior aproximação física com a classe trabalhadora organizada me perturbava constantemente, era necessário outro instrumento que me proporcionasse isso.  Portanto o Além do Mito se mostrou incapaz de propor um projeto para a educação do país e se colocou de forma explícita impossibilitado de trilhar uma atuação política na busca da transição para o Socialismo. Somente outro organismo seria capaz de dar respostas para minhas concepções e necessidades  enquanto militante.
Por que o PSTU?
Ao sair do Além do Mito, tinha a certeza que era necessário me organizar em um instrumento que  proporcionasse a possibilidade de sanar minhas indagações. Esse instrumento só poderia ser um partido.
Dentre os partidos políticos que se colocam de esquerda no cenário alagoano, o PSTU se mostra, atualmente, o organismo mais comprometido com a luta de classes e com a busca de uma ruptura revolucionária em prol do Socialismo. Suas atuações a nível nacional e seu programa de transição exposto nos seus jornais e panfletos foram fatores determinantes para o meu convencimento.
A estrutura do partido baseada no Centralismo Democrático também pesou para minha decisão. Hoje, posso afirmar que o Centralismo Democrático ao mesmo tempo em que me encanta também me assusta. Encanta-me no sentido de perceber que é a forma de organização partidária que historicamente mais se mostrou efetiva para a luta de classes. Diferente do Centralismo Burocrático perpetrado pela burocracia stalinista, onde toda a centralização política do partido se identifica com o poder absoluto do aparelho burocratizado regido pela direção, no Centralismo Democrático a democracia interna é condição para a centralização, ao mesmo tempo em que a centralização é condição para a democracia.
As decisões do partido devem ir dos seus núcleos de base para a direção e da direção para os seus núcleos de base (e vice e versa) em uma dialética que permite que tanto a base se desenvolva em sua militância, quanto à direção fique condicionada as deliberações da base. Desta maneira toda a política é fruto de uma ampla disputa democrática interna, garantindo que a vontade da base partidária seja respeitada através de dois dos princípios democráticos mais importantes: a honestidade na disputa e a vontade da maioria. Em resumo o que garante a unidade e efetividade das ações do PSTU é a participação ativa da base partidária no processo de discussão e deliberação das estratégias e táticas tiradas pelo Partido, sob o apoio de uma direção democraticamente votada.    
Como já dito, esta forma de organização ao mesmo tempo em que me encanta também me assusta. Assusta-me no sentido de nunca ter militado sobre os moldes do Centralismo Democrático. Não sei se neste caso, a teoria condiz com a prática, ou se condiz se irei me adaptar. É um caminho ainda obscuro que pretendo percorrer na minha militância, mas que só será realizado com uma atuação orgânica por dentro do Partido.  Mais do que nunca é necessário que eu viva o PSTU cotidianamente, que a dinâmica do partido se confunda com minha dinâmica. Só assim, poderei sanar minhas dúvidas sobre esta forma de organização.
Outro caminho ainda inexplorado por mim é a teoria trotskista reivindicada pelo Partido. Confesso que muito pouco conheço sobre os fundamentos teóricos defendidos por Leon Trotsky ou Nahuel Moreno.  Momentaneamente me indaguei se não seria uma contradição teórica a entrada em um organismo que reivindica determinada teoria, apenas conhecendo de forma simplista os seus fundamentos. Logo esse pensamento foi desconstruído.   O PSTU não centraliza teoricamente seus militantes.  A centralidade se dá politicamente e sobre o seu programa de transição, do qual há algum tempo já estou convencido.
Pelo contrário, continuarei com minhas humildes explorações e aprendizagens  sobre os fundamentos filosóficos e ontológicos que permeiam  a teoria marxista  e  de alguns sucessores dela. Além do mais, a partir desta nova etapa, estou disposto a conhecer e me aprofundar nos ensinamentos destes outros dois grandes sucessores de Marx: Trotsky e Moreno. Acredito que esta disposição será uma alavanca para o meu amadurecimento.
Muito do PSTU ainda não conheço, muitas novidades virão, várias outras respostas só poderão ser dadas posteriormente. Afinal, mais uma etapa da minha militância se inicia, e assim como todo início, as dúvidas são mais numerosas que as certezas. Todavia, uma afirmação sempre prevalece nos meus pensamentos: a crença que a decisão mais acertada está sendo tomada.
É por isso, que sinto a obrigação de comunicar aos meus companheiros e companheiras que militam comigo no Centro Acadêmico Guedes de Miranda e que tanto já me proporcionaram alegrias e experiências dentro do Movimento Estudantil, que a partir deste momento estou entrando no Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados.
Durante algum tempo muitas críticas injustas serão direcionada para mim e para o Partido, não tenhamos dúvidas sobre isto. Uma delas será a de que “irei construir o PSTU em detrimento do CAGM”.  Porém, que diante de tudo pelo que passamos do início até agora, apelo pela confiança que tenho nos companheiros (as) e acredito que os companheiros (as) tenham em mim.  Minha entrada no PSTU tem por objetivo maximizar a minha luta política em torno dos meus ideais, e um dos espaços mais importantes que construí, construo e continuarei construindo, sem sombra de dúvidas, são os espaços do CAGM, especificamente, os espaços construídos coletivamente pelos membros da Gestão Direito em Movimento.
Acredito que da parte dos companheiros (as) as críticas serão sinceras e os elogios verdadeiros, e estarei disposto a dialogar e trocar experiências sempre que for necessário.
  Esta carta foi escrita exclusivamente para os companheiros e companheiras da gestão Direito em Movimento, por entender a importância que vocês possuem na minha formação política e de vida. E por assim entender, não poderia deixar de compartilhar mais esse novo caminho que surge na minha vida e que muitas alegrias e desafios vem me proporcionando.


Alan Peixoto Daniel de Lucena
PSTU-AL

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