Por João Paulo da Silva
Déjà vu. A
expressão é de origem francesa e quer dizer, literalmente, “já visto”. Usando
uma explicação bem simples, o fenômeno pode ser definido como uma reação
psicológica que causa a sensação esquisita de estarmos revivendo experiências
do passado. Ficamos com uma impressão de estranheza na cabeça. “Isto já
aconteceu antes?” – nos perguntamos muitas vezes.
A cada ano que passa, Maceió vive um déjà vu. O último ocorreu
no dia 31 de dezembro de 2008. Com o decreto que estabeleceu o novo valor da
passagem de ônibus na capital alagoana para R$ 2,00, o prefeito Cícero Almeida
ofereceu a seus eleitores mais uma daquelas incômodas impressões de repetição.
Mas há um problema nisso tudo.
O déjà vu maceioense
não é um déjà vu clássico.
Possui uma diferença. Além do conhecido efeito repetitivo, nossa sensação do
“já visto” provoca também um reajuste de preço. Há quatro anos é o mesmo déjà vu, mas sempre com um
peso a mais no bolso. Penso, inclusive, que Almeida deveria ter ido a Pequim.
Só em 2008 foram dois aumentos de passagem de ônibus. De fato, um recorde.
Um déjà vu olímpico.
O novo valor do transporte urbano imposto por Cícero fez com que
2009 já nascesse maculado. Como se não bastassem a crise econômica e as
demissões feitas pelas empresas com a permissão dos governos, Almeida ainda
resolveu dar uma forcinha para aprofundar a miséria em Maceió. Não é apenas um
novo aumento de passagem que está sendo imposto.
Cícero está impondo também uma opção. Agora, os trabalhadores e
pobres de Maceió terão de fazer uma escolha infame: colocar mais comida em suas
mesas ou pegar um ônibus para ir ao trabalho. Isso para aqueles que possuem
algum tipo de renda, claro. Porque para todo o resto não há nem escolhas, o que
não deixa de ser infame.
Parece que “2000inove” não será tão inovador assim. Tudo indica
que os mais de 8,6 milhões de passageiros que por mês utilizam os coletivos
continuarão se espremendo na insuficiente frota de 648 ônibus de Maceió. Com
uma única diferença: vão pagar mais caro por isso.
A justificativa para o aumento da tarifa do transporte é uma velha
desculpa esfarrapada: a elevação do preço dos insumos. Debitando na conta do
povo os gastos com diesel, pneus e peças, o lucrativo setor do transporte
coletivo realimenta uma conhecida máxima: privatizar os lucros e socializar os
prejuízos. Há quase vinte anos utilizo os
ônibus de Maceió e nunca vi os empresários pagarem a conta.
Esse ano será déjà
vu atrás de déjà
vu. E cada um mais infame que o outro.
Extraído de: http://ascronicasdojoao.blogspot.com/2009/01/sobre-nosso-dj-vu-e-escolhas-infames.html?spref=fb
* Texto feito em janeiro de 2009, quando do aumento da passagem
para R$ 2,00, mas que continua contemporâneo.
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