Apesar da derrota no Tribunal e da posição da direção da Fentect, forte greve conquistou importantes avanços
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Agência Brasil | ||
Trabalhadores dos Correios acompanham julgamento no TST |
• Na tarde desse 11 de outubro, enquanto a greve dos trabalhadores dos Correios completava 28 dias, o Tribunal Superior do Trabalho (TST) julgou o dissídio coletivo da categoria. Em sua decisão final, o TST determinou o reajuste de 6,87% retroativo a 1º de agosto e aumento linear de R$ 80 a partir de 1º de outubro. Apesar de o Tribunal não reconhecer a abusividade da greve, como queria a direção da ECT (Empresa de Correios e Telégrafos), os juízes autorizaram o desconto de sete dias parados (a estatal já descontou seis), e a compensação dos outros 21 dias, que deverá ser feito aos sábados e domingos, com aviso de pelo menos 72 horas de antecedência.
O Tribunal também aprovou vale extra de R$ 575 para dezembro, vale-alimentação de R$ 25 e vale-cesta de R$ 140. O TST determinou ainda que os trabalhadores voltem a trabalhar à 0h de quinta-feira, dia 13. A decisão de levar o dissídio a julgamento foi tomada pelo presidente do Tribunal, João Oreste Dalazen, diante da insistência da empresa e do governo em cortarem os dias parados, e a resistência dos trabalhadores em aceitar tal ataque. Foi o mesmo juiz que, durante o julgamento, propôs o corte integral dos 28 dias da greve.
“A proposta do TST, lamentavelmente, se limitou à retomar a primeira proposta da empresa, realizada naquela primeira audiência” , reclama Geraldo Rodrigues, o Geraldinho, membro da Frente Nacional dos Trabalhadores dos Correios (FNTC), oposição à maioria da Fentect, que acompanhou o julgamento em Brasília. ”O sentimento da base da categoria é de muita revolta”, diz. Foi a primeira vez na história que a ECT determna o corte nos salários de grevistas. O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, chegou a comparar na imprensa a greve com férias.
Greve histórica
Mesmo que a greve não continue (a maior parte das assembleias deve ocorrer nesta quinta), já se pode dizer que a forte mobilização dos trabalhadores da estatal ganhou contornos históricos nesses 28 dias. Primeiro pela força do movimento que, mesmo com toda a truculência do governo, conseguiu dobrar a direção da ECT, que no início se recusava a conceder reajuste real, e aceitava apenas repor a inflação. Após as primeiras semanas de forte paralisação, o governo já aceitava conceder aumento real, mas só após 2012. Agora, mesmo a determinação rebaixada do TST já contempla reajuste real já. ”Foi a força do movimento que arrancou o aumento já”, explica Geraldinho.
O segundo grande momento dessa greve foi a verdadeira rebelião de base que atropelou a direção majoritária da Fentect (PT e PCdoB) em todo o país. No dia 4 de outubro, a maioria do Comando Nacional de Greve havia firmado acordo com a direção da empresa durante audiência de conciliação no TST que abria mão dos dias parados. Apesar de a Fentect orientar a aprovação da proposta nas assembleias do dia seguinte, todos os 35 sindicatos que compõem a Federação rejeitaram por unanimidade o acordo.
A imprensa e o próprio TST acusaram ‘grupos de esquerda’ supostamente infiltrados nas assembleias, pela não aprovação do acordo. O que determinou tal rebelião, porém, foi o sentimento de revolta de uma categoria composta por 110 mil trabalhadores cujo salário base é de apenas R$ 807, e exposta ainda a jornadas extenuantes de trabalho, muitas vezes perigosa.
O papel do governo e da Fentect
Diante da decisão do TST, o secretário Geral da Fentect, José Rivaldo da Silva (Talibã), culpou os próprios trabalhadores pelo resultado do julgamento. “Foi uma decisão dos próprios trabalhadores deixar o caso ir a dissídio”, declarou ao Portal Terra, lavando as mãos. O verdadeiro culpado, porém, é o governo Dilma que, em nome do ajuste fiscal e o “combate à inflação”, orientou diretamente os ministros e diretores das estatais a não concederem reajuste real este ano e a endurecerem com os trabalhadores em greve. É esse o motivo pelo qual os bancários dos bancos públicos e os servidores batem de frente com uma intransigência e truculência pouco vistas antes.
O governo divide essa responsabilidade com a própria direção da Fentect que, apesar da radicalização da base da categoria, tentou impedir que a greve batesse de frente com o governo. A denúncia e a exigência para que Dilma vete a MP 532, por exemplo, medida que abre o capital dos Correios e inicia sua privatização, foi levada somente pela FNTC e a CSP-Conlutas.
Já em relação aos milhares de trabalhadores dos Correios que protagonizaram uma das mais fortes greves dos últimos anos, fica o exemplo de luta e combatividade às demais categorias.
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