domingo, 26 de fevereiro de 2012

Serve para alguma coisa participar das eleições?*




Muitos ativistas honestos têm uma enorme desconfiança nas campanhas eleitorais. E têm toda razão, porque os partidos políticos que estão nos governos (nacional, estaduais e municipais) buscam os votos dos trabalhadores nas eleições e depois traem todas suas promessas. Dois anos depois, os mesmos partidos fazem novas promessas que são traídas novamente. Os casos de corrupção se generalizam. O povo diz, coberto de razão, que os “políticos” só querem é se arrumar.


E o que se pode fazer?
Isso é pura verdade. O problema é discutir o que fazer a partir daí. Não adianta “não querer saber de política”. Se os melhores ativistas, os melhores lutadores, chegarem a essa posição, a vida vai continuar a mesma de sempre. Os mesmos partidos vão continuar mandando... e roubando os cofres públicos.

Então o que se pode fazer em uma eleição? O país precisa de uma mudança profunda que só virá com o socialismo. Não virá com as eleições. No entanto, nas eleições podemos dar um passo adiante nessa luta para mudar o país.

É um momento em que se discutem as soluções para o país. É possível discutir nossas propostas para essas mudanças, nosso programa socialista, com milhões de pessoas. Só poderemos mudar o país se os trabalhadores estiverem convencidos disso. E as eleições nos permitem discutir isso abertamente.

Não vamos resolver nenhum dos graves problemas sociais do país com as eleições, ao contrário do que dizem os partidos burgueses de sempre. Mas podemos utilizar as eleições para fazer avançar as lutas diretas dos trabalhadores.

É possível apoiar as lutas que estejam ocorrendo utilizando o espaço eleitoral na TV. Por exemplo, em 2002, o PSTU foi o único partido que aproveitou seu tempo eleitoral na TV para divulgar o plebiscito contra a Alca, contribuindo decisivamente para se conseguir os mais de dez milhões de participantes.

A necessidade de uma terceira força, a dos trabalhadores
Existe uma enorme confusão na cabeça dos trabalhadores. Elegeram Lula para mudar o país, mas tudo seguiu na mesma. Não têm confiança na oposição burguesa, mas também já começam a ficar irritados com o aumento da inflação.

Existe uma lógica de polarização eleitoral entre os partidos do bloco governista (PT, PCdoB, PDT, PP, PMDB) de um lado e da oposição burguesa (PSDB-DEM) de outro. Na realidade é uma briga pelo controle do aparato de Estado e de suas verbas entre dois setores com o mesmo programa, o mesmo plano econômico e a mesma corrupção.

É preciso uma nova alternativa, dos trabalhadores. Está na hora de expressar nas eleições o que já está acontecendo nas lutas. Existe uma ruptura de massas com a CUT e a Força Sindical pela esquerda, que está se ampliando e expressando através da Conlutas. O movimento sindical não está preso nessa polarização entre o governo e a oposição burguesa. A Conlutas é a alternativa que vai capitalizando este processo de ruptura com a CUT e o governo.

Essa alternativa de esquerda, contrária aos dois blocos majoritários, já se esboçou nas eleições de 2006, com os seis milhões de votos dados à candidatura de Heloísa Helena. Nessas eleições de 2008, o PSTU chamou a uma frente entre nosso partido, o PSOL e o PCB. Infelizmente, a direção do PSOL preferiu se coligar com partidos da burguesia em várias capitais, inviabilizando a frente, como em Porto Alegre e Macapá. Na maioria das capitais, no entanto, a Frente de Esquerda saiu e pode ser uma alternativa contra os dois blocos da burguesia.


Apóie os candidatos do PSTU
É por isso que estamos chamando você, que esteve conosco nas lutas salariais, nas eleições das oposições sindicais, nas mobilizações estudantis, a se engajar em nossa campanha eleitoral.

Não encontrará em nós uma campanha rica, não receberá “brindes” de camisetas, não lhe ofereceremos dinheiro ou cargos. Este é o tipo de campanha dos partidos que estão no poder: oferecem migalhas a você para que eles continuem mandando no país e roubando você. A nossa campanha é modesta e se orgulha disso, porque não temos o dinheiro da burguesia e da corrupção.
 
Mas poderá participar de uma atividade que, ainda que inicial, tem um profundo significado: ajudar a construir uma alternativa socialista. Poderá ter orgulho do que fez e não se arrepender amanhã por um voto jogado fora. Apóie e participe da campanha eleitoral do PSTU.




Texto de 2010

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Sobre nosso déjà vu e escolhas infames*



Por João Paulo da Silva
Déjà vu. A expressão é de origem francesa e quer dizer, literalmente, “já visto”. Usando uma explicação bem simples, o fenômeno pode ser definido como uma reação psicológica que causa a sensação esquisita de estarmos revivendo experiências do passado. Ficamos com uma impressão de estranheza na cabeça. “Isto já aconteceu antes?” – nos perguntamos muitas vezes.

A cada ano que passa, Maceió vive um déjà vu. O último ocorreu no dia 31 de dezembro de 2008. Com o decreto que estabeleceu o novo valor da passagem de ônibus na capital alagoana para R$ 2,00, o prefeito Cícero Almeida ofereceu a seus eleitores mais uma daquelas incômodas impressões de repetição. Mas há um problema nisso tudo.

déjà vu maceioense não é um déjà vu clássico. Possui uma diferença. Além do conhecido efeito repetitivo, nossa sensação do “já visto” provoca também um reajuste de preço. Há quatro anos é o mesmo déjà vu, mas sempre com um peso a mais no bolso. Penso, inclusive, que Almeida deveria ter ido a Pequim. Só em 2008 foram dois aumentos de passagem de ônibus. De fato, um recorde. Um déjà vu olímpico.

O novo valor do transporte urbano imposto por Cícero fez com que 2009 já nascesse maculado. Como se não bastassem a crise econômica e as demissões feitas pelas empresas com a permissão dos governos, Almeida ainda resolveu dar uma forcinha para aprofundar a miséria em Maceió. Não é apenas um novo aumento de passagem que está sendo imposto.

Cícero está impondo também uma opção. Agora, os trabalhadores e pobres de Maceió terão de fazer uma escolha infame: colocar mais comida em suas mesas ou pegar um ônibus para ir ao trabalho. Isso para aqueles que possuem algum tipo de renda, claro. Porque para todo o resto não há nem escolhas, o que não deixa de ser infame.

Parece que “2000inove” não será tão inovador assim. Tudo indica que os mais de 8,6 milhões de passageiros que por mês utilizam os coletivos continuarão se espremendo na insuficiente frota de 648 ônibus de Maceió. Com uma única diferença: vão pagar mais caro por isso.

A justificativa para o aumento da tarifa do transporte é uma velha desculpa esfarrapada: a elevação do preço dos insumos. Debitando na conta do povo os gastos com diesel, pneus e peças, o lucrativo setor do transporte coletivo realimenta uma conhecida máxima: privatizar os lucros e socializar os prejuízos. Há quase vinte anos utilizo os ônibus de Maceió e nunca vi os empresários pagarem a conta.
Esse ano será déjà vu atrás de déjà vu. E cada um mais infame que o outro.


* Texto feito em janeiro de 2009, quando do aumento da passagem para R$ 2,00, mas que continua contemporâneo.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Grupo de Maceió adere ao PSTU


Henrique Canary
São Paulo (SP)


A nota abaixo foi escrita por um grupo de militantes anteriormente organizados no Núcleo de Formação de Militantes Marxistas (NFMM), uma organização política regional, com base em Maceió (AL) e que vinha, desde fevereiro de 2011, em um processo de unificação com o PSTU. 

O NFMM tinha origem no movimento estudantil da UFAL (Universidade Federal da Alagoas) e suas relações com o PSTU, a despeito de quaisquer diferenças, sempre se caracterizaram pela camaradagem entre companheiros e unidade na luta. À medida que a atuação política conjunta avançava, os militantes das duas organizações sentiram a necessidade de discutir mais a fundo os acordos e também as diferenças entre as duas organizações, com vistas a uma unificação.

No início de 2011, após uma série de atividades práticas conjuntas, bem como discussões políticas e teóricas, cursos e seminários, os companheiros do NFMM solicitaram o ingresso ao PSTU. Junto com o pedido de ingresso, os companheiros fizeram uma solicitação especial: que durante um ano, tivessem a possibilidade de manter sua estrutura de grupo, ou seja, eles integrariam os organismos do PSTU normalmente, mas teriam também o direito de reunir-se em separado para avaliar o andamento da experiência de unificação.

Embora o PSTU seja um partido sem grupos internos organizados, consideramos positiva a solicitação dos companheiros como forma de dissipar quaisquer dúvidas e desconfianças com relação ao nosso funcionamento e por isso decidimos permitir a manutenção de sua organização interna pelo período de um ano.

Essa política demonstrou-se mais do que correta: os companheiros se integraram perfeitamente aos organismos do PSTU, ao mesmo tempo em que tinham o direito de reunir-se em separado para avaliar o andamento da experiência de unificação. A atuação pública se manteve centralizada nos marcos da política do PSTU. Ao final do período acordado, como se verá pela carta, os companheiros decidiram dissolver definitivamente sua organização e se integrar plenamente ao PSTU, com todos os direitos e deveres de qualquer militante. Junto com isso, também como se verá pela carta, os companheiros sublinham que restam ainda inúmeras questões políticas e teóricas a serem discutidas, mas que preferem fazer essas discussões dissolvidos dentro do partido, já que ali encontraram um ambiente de democracia e camaradagem.

Publicamos os principais trechos do balanço final escrito pelos membros do agora ex-NFMM pois acreditamos que se trata de um ótimo exemplo de como pode ser construída a unidade entre aqueles que querem se dedicar à construção do único instrumento capaz de dirigir a classe trabalhadora em sua luta contra o capital e pelo socialismo: um grande e verdadeiro partido marxista revolucionário.


Principais trechos da nota:

Comunicado ao Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado

Camaradas, escrevemos esse comunicado com a intenção de informar o resultado de nossa última reunião e o balanço final de nossa experiência (após um ano de duração como acordado), enquanto enlace, com o partido. De antemão, adiantamos que nossa avaliação geral é positiva no sentido de que decidimos pela permanência com consequente dissolução interna de nosso pequeno núcleo nas fileiras do PSTU.

Essa decisão não se dá pela resolução de todas as questões que, embora inacabadas, levantamos no documento que marca o início de nossa experiência. Acreditamos, ainda, que há debates a serem realizados com profundidade, acerca de todas as questões que levantamos naquela ocasião. No entanto, o período de prova pelo qual passamos junto à organização nos apresenta todas essas questões por um outro ângulo, talvez mais maduro.

Como sabido, partimos de uma tradição de interpretação do marxismo relativamente diferente daquela em que se construiu o PSTU. Rigorosamente não somos morenistas, o que não quer dizer que desprezemos o dirigente histórico da corrente da qual agora fazemos parte. Acreditamos, tão somente, que a teorização de Nahuel Moreno (incluindo a sua forma de recepção do trotskismo e do leninismo), ainda que importante, é insuficiente para resolver os problemas da construção do processo revolucionário que se põem atualmente. Essa diferença de tradição da interpretação do marxismo, contudo, não se traduz em uma incompatibilidade de leituras acerca das tarefas históricas que se põem para a classe trabalhadora hoje.

Essa é a questão que julgamos, após essa experiência, fundamental de ser respondida. Nosso acordo deve estar posto na resposta que damos à pergunta que Lenin lança ao movimento revolucionário: Que fazer? Percebemos, hoje, que o critério que deve balizar nossa decisão não são os acordos ou desacordos teóricos, por mais que possam existir. Diferentemente, aqui devem pesar muito mais os inúmeros acordos de compreensão do atual momento histórico, bem como das grandes tarefas postas para todo um período, o que não apaga os possíveis desacordos. Não se trata de concordar ou não com essa ou aquela caracterização para a “etapa” (categoria que, polemicamente, sequer adotamos). Nem mesmo de acreditar que os desacordos teóricos não se possam traduzir em desacordos práticos futuros. Trata-se de perceber os acordos que temos na compreensão das tarefas atuais necessárias para a constituição da classe trabalhadora enquanto revolucionária e independente. Trata-se, portanto, de agir coerentemente com essa compreensão.

(…) Não somos capazes de encontrar nenhum desvio grave nas formulações do PSTU e embora tenhamos matizes diferentes de interpretação da realidade, pressupostos teóricos distintos, leituras do marxismo que ora se distanciam, ora se aproximam, seria um absurdo não compreender que estamos construindo uma organização socialista, proletária e revolucionária. Avaliamos que dado o atual estágio da organização da classe trabalhadora no país e no mundo, essa está entre as principais tarefas militantes que estão dadas para o momento. É com o PSTU que queremos discutir a revolução socialista. Construí-lo, portanto, é nossa tarefa enquanto revolucionários.
(…)
Nossa caracterização é a de que o PSTU é uma organização revolucionária em construção. É necessário se debruçar sobre uma série de temas para amadurecer esse processo (crise estrutural do capital, a crise de direção e as tarefas para resolvê-la, o centralismo democrático e sua aplicação prática, história do movimento de massas no Brasil e no mundo, formação político-econômica do Brasil e sua posição atual na economia capitalista mundial, natureza e fomento do trabalho teórico do partido etc.). Contudo, as principais tarefas, as linhas mestras desta construção, parece-nos, estão postas. É com bons olhos que vemos a discussão congressual acerca da atuação como partido político que realizamos esse ano. Cabe-nos em associação aos demais militantes e em condições iguais aos mesmos, desenvolver essas linhas mestras da melhor forma que nos for possível. Assim, somos de nossa parte, hoje, militantes plenos do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado e da Liga Internacional dos Trabalhadores.

Saudações revolucionárias,


Maceió, Fevereiro de 2012.

Davi Menezes, Eli Magalhães, Geice Silva, Lylia Rojas, Shuellen Peixoto



Retirado do Site do PSTU

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

100 anos do Quebra de Xangô: O perdão do Governador não irá parar o extermínio do povo negro na capital mais sangrenta do país!



                Há exatos 100 anos, no dia 2 de fevereiro de 1912, a então Liga dos Republicanos Combatentes, uma organização formada por políticos e veteranos de guerra, promoveu um dos maiores massacres racistas da história de Alagoas e do Brasil. No episódio, que ficou conhecido como o “Quebra de Xangô” foram destruídos dezenas de terreiros de Umbanda e Candomblé na capital alagoana, em uma ação coordenada e premeditada. Pais de Santo e líderes religiosos foram espancados e imagens de culto foram destruídas na calada da noite, e o que se seguiu naquela época foi uma grande campanha de “demonização” das religiões afro. A ação tinha como um de seus líderes o ex-Governador Fernandes Lima, que até hoje é homenageado com seu nome na principal Avenida de Maceió, e a motivação, além de religiosa era política: tentar afastar o então Governador Euclides Malta, conhecido por sua amizade com líderes de religiões afro.
      Mas não foi só em 1912 que a vida, a cultura e a religião do povo negro foram massacradas em nome de interesses políticos e da intolerância racista em Alagoas. A burguesia hoje quer nos fazer acreditar que vivemos hoje numa democracia racial, que a escravidão e a superexploração do povo negro ficaram para trás. Cem anos depois do Quebra de Xangô o massacre continua, só que desta vez com uma roupagem moderna. Em pleno século XXI o povo negro de Maceió continua sofrendo com a violência policial nas comunidades, onde jovens sem nenhuma perspectiva de emprego são recrutados um a um pelo tráfico de drogas, e perdem suas vidas em nome do lucro de burgueses que constróem verdadeiros impérios do crime organizado, na cidade onde mais se matam jovens no Brasil, a terceira mais violenta do mundo. No campo o trabalho escravo ainda é realidade, e serve de força motriz para o setor sucro-alcooleiro, os pais da miséria e da fome em nosso Estado.
                Para “comemorar” os 100 anos do Quebra de Xangô o Governador do Estado, Teotônio Vilela/PSDB, resolveu assinar um documento pedindo “perdão” oficial pela chacina. Estamos muito convencidos de que este “perdão” não possui um pingo sequer de sinceridade, primeiro porque Téo pertence ao PSDB, o mesmo partido que ordenou os recentes massacres no Pinheirinho e na Cracolândia em São Paulo. O próprio Téo representou desde o início de seu mandato um recrudescimento da violência policial em Alagoas na cidade e no campo, ao ordenar inúmeros despejos violentos, usando e abusando de cassetetes, bombas e balas de borracha, ateando fogo e passando tratores por cima das casas dos trabalhadores. E o pior é que o PSDB vêm implementando há anos sua política da “democracia do cassetete” contra o povo negro com a conivência dos Governos de Lula e Dilma/PT, que sempre disseram estar ao lado dos trabalhadores.
                Nós do PSTU, um partido que sempre esteve ao lado da luta do povo negro, não podemos deixar de enxergar nas manifestações da cultura negra, na Umbanda, no Candomblé, no Maracatu, no Hip Hop, dentre tantas outras, a verdadeira continuidade da luta de resistência dos quilombolas. Em cada ocupação de terra, na cidade e no campo, em cada grota e em cada comunidade pobre está um pedaço de Palmares e em cada lutador que resiste está um pouco de Zumbi! É necessário unificar os movimentos de resistência do povo negro com os sindicatos e demais organizações de luta da classe trabalhadora para derrotar a política fascista de Téo e do PSDB!