quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Dia Latino-americano de luta pela Descriminalização do Aborto – 28 de Setembro


Chega De Mulheres Mortas






O dia 28 de Setembro é o Dia Latino-Americano de Luta pela Descriminalização do Aborto. Devemos tratar este assunto como uma questão de saúde pública: no Brasil são realizados em média 1 milhão e 400 mil abortos anuais (número que, na realidade, pode ser muito maior), a morte por aborto se constitui como a terceira causa de mortalidade materna no Brasil e as complicações por aborto se constituem na quinta causa de internação das mulheres nos serviços públicos.

O argumento de que a legalização do aborto aumentaria a ocorrência desta última alternativa é errado por dois motivos: Em primeiro lugar, o que reduz a possibilidade de opção de uma mulher são suas condições de vida. Em segundo lugar, por trás deste argumento está implícita uma aprovação a que se imponha às mulheres da classe trabalhadora filhos que elas não desejam ter porque a sociedade não lhes dá condição de criá-los. É retirado, cada vez mais, o acesso a postos de saúde gratuitos e de qualidade onde as mulheres e homens possam recorrer às informações e à assistência médica para o uso de contraceptivos.

Sobre um fato não há dúvida: as mulheres das classes pobres praticam aborto em condições muito piores do que as mulheres da classe média e alta. Como o aborto é proibido pela lei brasileira, os médicos que os praticam na clandestinidade cobram muito caro. Por falta de dinheiro, a maioria das mulheres é obrigada a recorrer ao auxílio de curiosas ou tentar o aborto sozinhas. Por causa dessas condições precárias, anualmente milhões de mulheres pobres colocam em risco sua saúde e sua vida.

No que tange à questão das mulheres, Dilma segue o mesmo projeto de Lula. Nenhuma concessão aos direitos que possam provocar desgastes à imagem política. A legalização do aborto é um deles, que foi utilizado como uma moeda de troca, tanto pelo PT quanto pelo PSDB, durante as eleições. Enquanto isso, milhares morrem vítimas de procedimentos mal sucedidos ou são criminalizadas. Basta de mulheres mortas por abortos clandestinos!

O PSTU apoia a legalização do aborto, junto à luta pela expansão da saúde pública, creches e por uma sociedade que não negue a ninguém condições humanas de existência para si e para os filhos que desejar ter.

Anticoncepcionais gratuitos para não abortar! Aborto legal para não morrer!

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Abuso sexual não tem graça


SECRETARIA NACIONAL DE MULHERES DO PSTU




Talvez você não perceba. Talvez até ache graça. Mas a violência contra as mulheres está sendo incentivada dentro da sua casa, de forma nada sutil, no humorístico Zorra Total. No principal quadro do programa, chamado “Metrô Zorra Brasil”, todos os sábados à noite, duas amigas travam um diálogo dentro do vagão lotado. Na fórmula do roteiro, lá pelas tantas, em todos os episódios, um sujeito se aproxima, encosta e bolina a mulher de várias formas. No episódio do dia 9 de julho, o quadro mostrou a mulher sendo “tocada” em suas partes íntimas com a “batuta” de um maestro.

A mulher atacada, Janete (Thalita Carauta), cochicha com sua amiga Valéria (Rodrigo Sant’anna), que, ao invés de defendê-la, diz:“aproveita. Tu é muito ruim, babuína. Se joga”. A claque ri.

O ataque relatado pelo programa acontece todos os dias com milhares de mulheres no nosso país. Só nós mulheres podemos medir a humilhação pela qual passamos nos trens e ônibus lotados e suas consequências. Não tem graça.

No metrô de São Paulo, o mais lotado do mundo, numa manhã de abril, uma jovem trabalhadora foi violentada sexualmente num vagão da linha verde, considerada uma das melhores. Um crápula a segurou pelo braço, ameaçou, enfiou a mão sob sua saia, rasgou sua calcinha e a tocou. Os passageiros perceberam, tentaram agir, mas o homem fugiu. O caso foi registrado como estupro na 78º DP da capital paulista. Impossível rir disso.

É sabido que a Rede Globo nunca foi uma defensora das mulheres e da diversidade. Neste momento mesmo, o diretor-geral da emissora exigiu que os autores da novela Insensato Coração acabassem com comentários favoráveis às bandeiras gays, e recomendou menos ousadia nas cenas entre os dois personagens homossexuais.

Mas o Zorra Total foi longe demais. O quadro do programa incentiva a violência contra às mulheres e o estupro, de uma forma sistemática, já que o ataque é parte da estrutura permanente do texto. Ou seja, todas as semanas, a Rede Globo diz que as mulheres que sofrem abuso sexual devem “aproveitar” e “agradecer”, como se fosse uma dádiva.

Repete a lógica do humorista Rafinha Bastos que, pelo Twitter, escreveu que as feias deveriam agradecer ao serem estupradas. E está sendo processado por isso.

O quadro tem alcançado liderança de audiência nas noites de sábado, atingindo cerca de 25 pontos de audiência. Ou seja, milhões de lares recebem toda semana a mensagem de que é natural abusar sexualmente de mulheres no metrô, nos trens, nos ônibus. Não é preciso muito para saber que o quadro certamente terá efeitos sobre esse público, naturalizando a violência contra a mulher, diminuindo a gravidade de um crime, tornando-o algo menor, sem importância.

Essa brincadeira não tem graça. É no mínimo lamentável que o talento da dupla de humoristas esteja sendo desperdiçado em um quadro que incentiva o ataque às mulheres trabalhadoras. É revoltante que a emissora líder mantenha um programa que defende práticas tão nefastas, num país onde uma mulher é violentada a cada 12 segundos; onde uma mulher é assassinada a cada duas horas; onde 43% das mulheres sofrem violência doméstica.